Por que SULear? Marcas do Norte sobre o Sul, da escola à geopolítica

Resumo

Regras aparentemente práticas para orientação espacial relativa a pontos cardeais recomendam apontar a mão direita para o Sol nascente do lado leste. Tais regras provindas do Norte são impropriamente disseminadas no Hemisfério Sul. Esse aspecto prático desconsidera que no Sul a estrela Polar não pode ser visível estando constantemente abaixo do horizonte. Com essa tradicional e má influência, escolas e livros do Sul também ensinam os pontos cardeais pelo apontar da mão direita para o lado no qual nasce o Sol: lado leste. Assim procedendo, teremos o sentido norte à frente e atrás o sul. Entretanto, à noite para o Hemisfério Sul, o Cruzeiro do Sul deve ser o nosso guia, devemos nos guiar pelo Cruzeiro do Sul, caso no qual faz sentido adotar o termo SULear para essa ação. Para o Hemisfério Sul, e para que as regras sejam adequadas e contextualizadas, é a mão direita que deve apontar o Sol nascente. Usar a esquerda impediria que saberes inapropriados “escorressem” do Norte (acima/superior) para o Sul (abaixo/inferior). O gesto da mão esquerda articula coerentemente as visadas nos sentidos leste e sul, o que se justifica por ele ser apropriado tanto para observações diurnas quanto para as noturnas. Regras práticas impróprias e convenções chegadas do Hemisfério deveriam se decolonizadas pelo Sul. O termo SULear – proposto em 1991 - problematiza e se opõe ao caráter ideológico do termo NORTEar quando aplicada no Sul, dando visibilidade às perspectivas do Sul numa maneira de contrariar a dominante lógica eurocêntrica do Norte construída como uma referência universal. Contribuições para uma educação formal e não-formal em uma lógica e uma episteme do SUL, pretendem estabelecer uma perspectiva crítica e decolonial aos problemas e contradições apresentadas em textos, artefatos (globos e mapas) e métodos ensinados em nossas escolas e fora delas em outros espaços sociais. Além disso, serão considerados os saberes e práticas construídos a partir de diversas leituras do mundo próprias de cada contexto natural-sócio-cultural dos quais aprendemos nas pesquisas de campo etnográficas – sobretudo entre pescadores e indígenas. Esses