Palavra

2020-04-27

Palavra

Ventos críticos!

O que fazer com a crise? A crise está instalada. O que se faz com a crise?

“é o mal estar da crise que desencadeia o trabalho do pensamento – processos de criação” (Rolnik. 2006)

É possível dar às forças de criação o lugar privilegiado de se expressar? Liberdade de expressão? Uma questão que está posta, contudo, a “lógica midiática e o princípio mercadológico” já vem cafetinando esta força. A crise é oportuna para se questionar que, reduzida aos lugares comuns, esta força têm o triste destino de ser cafetinada ou aplacada por seus substitutos – remédios, consumo, individualismo?

Rolnik, em seu artigo “Geopolítica da Cafetinagem” oferece uma “degustação” de seu amplo trabalho sobre processos de subjetivação e micropolítica, que se liga a arte – divertidamente – pela necessidade de criação de mundos, de subjetividades flexíveis.

Sim, estamos todos vulneráveis aos perigos do mundo. Sempre estivemos fugindo da vulnerabilidade. Já faz algum tempo que convivemos com a naturalização da insensibilidade. Se estamos absurdados pelos brasileiros que praticam buzinaço na porta de hospitais, faz quanto tempo que acostumamos a não mais nos indignarmos com a situação de um mendigo na calçada pedindo esmola.

É preciso se vulnerabilizar para ver com o outro olho, aquele que não vê somente o que está posto. O que é familiar está posto pela percepção, e somos levados a distanciarmos das sensações que tal ato desperta (qualquer um que se permitir sentir o quão bizarro é fazer um buzinaço na porta de um hospital!!!). Existe uma identidade de grupo que traz certa rigidez, vulnerabilizar-se é sair da identidade e viver a subjetividade flexível, arriscar-se à crise. 

Existe muita complexidade nisso tudo, apelo midiático, narrativas simplificadoras, entretenimento! As sensações entregues as manipulações de toda ordem. O saber do corpo, aturdido, espancado, sofre do trauma de não saber-se vivo. Como tirar o analgésico? A crise é dolorosa, a cultura de massa diz pra tirar a dor! Uma cultura que diz que você não dá conta da crise e disponibiliza esse e aquele remédio. O tempo inteiro as sensações do nosso corpo estão sendo conduzidas para um tipo de versão da realidade e é essa versão (macropolítica) que atende aos interesses de um capitalismo financeiro que promove a nós a adequação a sermos massa de manobra, a aceitarmos determinado padrão de beleza, que a música boa é essa, que é isso que é legal consumir...

E assim, essa questão da subjetividade flexível é urgente! Ela nos livra dos maniqueísmos.

O artigo GEOPOLÍTICA DA CAFETINAGEM, de Suely Rolnik está disponível em:

http://www4.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf