Medicalização da infância:
uma análise sobre o estado do conhecimento a partir das pesquisas de mestrado em Educação e Psicologia no Brasil (2010-2020)
DOI:
https://doi.org/10.36704/eef.v27i51.6955Palavras-chave:
criança, desenvolvimento, educação, medicalização, psicologiaResumo
As discussões acerca do fenômeno da medicalização da infância demonstram como os sofrimentos humanos e a própria existência são patologizados desde a mais tenra idade. Dessa forma, objetivamos discutir sobre esse fenômeno a partir das pesquisas de mestrado em Educação e Psicologia no Brasil (2010-2020). Para isso, optamos por uma pesquisa bibliográfica do tipo estado do conhecimento, à luz da Teoria Histórico-Cultural, cujos fundamentos se assentam no Materialismo Histórico-Dialético. As categorias analíticas foram: medicalização e interseccionalidade; medicalização, exigências da sociedade capitalista e indústria farmacêutica; e medicalização e formação de professores. Os resultados indicam que as intervenções de cunho médico repercutem no imaginário coletivo como responsáveis pela melhora no funcionamento biológico e cognitivo da criança e por sua aprendizagem e desenvolvimento, justificando processos medicalizantes na infância. Ainda, as exigências da sociedade capitalista, somadas aos interesses da indústria farmacêutica, contribuem para a promoção inadvertida de psicofármacos, incidindo igualmente na formação de docentes.
Downloads
Referências
ABREU, Lorena Dias de. Existências relâmpagos: medicalização em tempo integral. 2016. 155 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2016.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
ALVES, Giovanni. Trabalho e subjetividade: o espírito do Toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011.
ANTONELI, Patrícia de Paulo. Os “inconvenientes” na escola: um estudo sobre a medicalização de crianças e adolescentes e suas estratégias de resistências. 2015. 175 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, 2015.
ARAÚJO, Wilma Fernandes. Discurso e medicalização: o significado do TDAH para pais e mães de alunos do ensino fundamental. 2017. 82 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.
ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; LOPES, Juliana Silva. “A culpa é sua”. Psicologia USP, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 53-73, 2006. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000100005
BDTD. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. O que é? BDTD, 2021. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Content/whatIs. Acesso em: 30 de set. 2021.
BELTRAME, Rudinei Luiz. Medicalização da educação: sentidos produzidos por estudantes com diagnóstico relacionado a dificuldades no processo de aprendizagem e de comportamento. 2019. 168f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.
BOARINI, Maria Lúcia; YAMAMOTO, Oswaldo H. Higienismo e Eugenia: discursos que não envelhecem. Revista Psicologia, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 59-72, 2004.
BRZOZOWSKI, Fabíola Stolf; de CAPONI, Sandra Noemi Cucurullo. Medicalização dos desvios de comportamento na infância: aspectos positivos e negativos. Psicologia: ciência e profissão, [s.l.], v. 33, n. 1, p. 208-221. 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000100016
CARVALHO, José Sérgio Fonseca de. A produção do fracasso escolar: a trajetória de um clássico. In: PATTO, Maria Helena Souza (org.). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. 4. ed. São Paulo: Intermeios, 2015. p. 402-412.
COELHO, Rejane Teixeira et al. Introdução. In: TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima; MENDONÇA, Fernando Wolff. (orgs.). Orientações para pais e professores sobre a medicalização da infância: desenvolver para não medicar. Paranavaí: EduFatecie, 2021. p. 9-10.
COLAÇO, Lorena Carrillo. A produção de conhecimento e a implicação para a prática do encaminhamento, diagnóstico e medicalização de crianças: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural. 2016. 117f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
COLLARES, Cecília Azevedo Lima; MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso. A transformação do Espaço Pedagógico em Espaço Clínico (A patologização da Educação). Série Ideias, São Paulo, n. 23, p. 25-31, 1994.
CONRAD, Peter. The medicalization of Society on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2007.
DARIM, Naiara Perin. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade em escolares de São José do Rio Preto e categorização de publicações sobre o tema. 2017. 88f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, 2017.
EIDT, Nadia Mara; MARTINS, Damily Rodrigues. Medicalização, uma história antiga: recuperando as relações com o higienismo e a eugenia na sociedade e educação. In: TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima (orgs.). O lado sombrio da medicalização na infância: possibilidades de enfrentamento. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2019. p. 13-36.
FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “Estado da Arte”. Educação & Sociedade, [s.l.], v. 23, n. 79, ago. 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-73302002000300013
FRANCO, Leticia Cristina. A higienização e a medicalização de crianças no Brasil: aproximações na história da relação medicina-saúde-educação. 2018. 122f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2018.
FREITAS, Fernando; AMARANTE, Paulo. Medicalização em Psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017. DOI: https://doi.org/10.7476/9788575415788
FRIGOTTO, Gaudencio. Educação Omnilateral. In: CALDART, Roseli Salete et al. (orgs.). Dicionário do Campo. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012. p. 267-274.
GARCIA, Amanda Trindade. Como os processos de medicalização respondem às políticas públicas e avaliações externas: um olhar a partir do discurso de uma escola de alto IDEB. 2019. 116f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual Paulista, Marília, 2019.
GOIS, Juliana Carla da Silva. Os fundamentos do trabalho em Marx: considerações acerca do trabalho produtivo e do trabalho improdutivo. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO E POLÍTICA SOCIAL, 1., 2015, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2015, p. 1-8.
GUALTIERI, Regina C. Ellero; LUGLI, Rosário Genta. A escola e o fracasso escolar. São Paulo: Cortez, 2012.
KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas S. A. 2003.
LEFEVRE, Fernando. O medicamento como problema de saúde pública: contribuição para o estudo de uma mercadoria simbólica. 1989. 262f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989.
LENZI, Cristina Roth de Moraes. O milagre da Ritalina: Agora ele copia tudo! O que dizem pais e professores de crianças diagnosticadas com TDAH. 2015. 141f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2015.
LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo. Tradução de Rubens Eduardo Frias. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2004.
LIMA, Thaís Cristina. Medicalização da Infância na Educação: uma leitura a partir do discurso capitalista de Jacques Lacan. 2017. 105f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.
LOPES, Luiz Fernando. Medicalização de crianças com queixas escolar e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF): uma análise crítica. 2013. 114f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
LUCENA, Jéssica Elise Echs. O Desenvolvimento da Atenção Voluntária na Educação Infantil: contribuição da Psicologia Histórico-Cultural para processos educativos e práticas pedagógicas. 2016. 135f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
MANCE, Euclides André. O capitalismo atual e a produção da subjetividade. Universidade Federal do Espírito Santo, São Mateus , nov. 1998.
MARTINHAGO, Fernanda. TDAH e Ritalina: neuronarrativas em uma comunidade virtual da Rede Social Facebook. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 23, n. 10, p. 3327-3336, jan./jun. 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-812320182310.15902018
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. V. 1, T 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
MASSARI, Marina Galacini. Serviços de acolhimento para crianças e adolescentes e medicalização: narrativas de resistência. 2016. 166f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) - Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2016.
MENDOZA, Ana Maria Tejada. Escolarização em diagnóstico: crianças em concreto. 2014. 200f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
MEZZARI, Diana Priscila de Souza; FACCI, Marilda Gonçalves Dias; LEONARDO, Nilza Sanches Tessaro. Medicalização entre os professores: formas de enfrentamento aos dilemas do trabalho na educação? In: TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima. (orgs.). O lado sombrio da medicalização na infância: possibilidades de enfrentamento. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2019. p. 193-224.
MORETTI, Vanessa Dias; MOURA, Manoel Oriosvaldo de. A Formação Docente na Perspectiva Histórico-Cultural: em busca da superação da competência individual. Psicologia Política, [s.l.], v. 10, n. 20, p. 345-361, jul./dez. 2010.
MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso. A institucionalização invisível: crianças que não aprendem na escola. Campinas, SP: Mercado de letras, 2001.
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
ORTEGA, Fabíola Regina. A medicalização da queixa escolar: Poder e saber médico na produção de sujeitos em uma escola municipal de Santo Antônio do Sudoeste – Pr. 2019. 154f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão, 2019. DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.66319231213
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. 4. ed. São Paulo: Intermeios, 2015.
REGO, Marise Brito do. Medicalização da vida escolar: cartografia de práticas implicadas na produção do fracasso escolar e do “aluno-problema”. 2017. 158f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.
SANTOS, Caio Cesar Portella. Medicalização da Educação: sentidos de professoras e de uma psicóloga que atua na área educacional. 2015. 130f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, 2015.
SANTOS, Geane da Silva. A medicalização da infância: um estudo com professores(as) da rede municipal de ensino de Goiânia sobre encaminhamentos à família. 2017. 202f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.
SAWAIA, Bader Burihan. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. Psicologia e Sociedade, [s.l.], v. 21, n. 3, p. 364-372, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-71822009000300010
SILVA, Carla Maciel da; BAPTISTA, Claudio Roberto. Patologização e medicalização da vida: a infância e os processos de escolarização. In: CECCIM, Ricardo Burg; FREITAS, Cláudia Rodrigues de (orgs.). Fármacos, remédios, medicamentos: o que a educação tem com isso? Porto Alegre: Rede Unida, 2021. p. 53-64.
SILVA, Jerto Cardoso da; MENDES, Caroline Forati. Medicalização da infância: produções de sentido sobre o discurso de profissionais de saúde. Estudos de Psicologia, [s.l.], v. 24, n. 4, p. 393-401, out./dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.22491/1678-4669.20190039
SUZUKI, Mariana Akemi. A medicalização dos problemas de comportamento e da aprendizagem: uma prática social de controle. 2012. 174f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2012.
TERRA-CANDIDO, Bruna Mares. Não-aprender-na-escola: a busca pelo diagnóstico nos (des)encontros entre saúde e educação. 2015. 208f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
TOZETTO, Susana Soares. Docência e formação continuada. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 13.; SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO, 4.; SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE, 6., 2017, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2017, p. 24537-24549.
TST. Tribunal Superior do Trabalho. É capacitismo, e você deve saber: um miniguia para atitudes que incluam pessoas com deficiência. TST, 2022. Disponível em: https://www.trt13.jus.br/programas-e-acoes1/diagramacao-miniguia-capacitismo-02122022-web.pdf. Acesso em: 29 maio 2023.
TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima (orgs.). O lado sombrio da medicalização na infância: possibilidades de enfrentamento. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2019.
VALENTE, Andrea Lunardelli. Desatenção e Hiperatividade: sintomas de um transtorno social e cultural. 2019. 80f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2019.
VIÉGAS, Lygia de Souza; CARVALHAL, Tito Loiola. A medicalização da/na educação em uma perspectiva interseccional: desafios à formação docente. Movimento – Revista de Educação, Niterói, n. 7, v. 15, p. 23-49, set./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.42660
VYGOTSKI, Lev Semenovich. Obras Escogidas: Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores. Madrid: Visor, 1995. t. 3.
VOLLET, Fernanda. A medicalização do TDAH em crianças: considerações de professores da educação básica sobre as características que definem o transtorno. 2015. 54f. Dissertação (Mestrado em Ensino e Processos Formativos) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São José do Rio Preto, 2015.
WANDERBROOK JUNIOR, Durval. A educação sob medida: os testes psicológicos e o higienismo no Brasil (1914-1945).2007. 169f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2007.
WHITAKER, Robert. Anatomia de uma epidemia: pílulas mágicas, drogas psiquiátricas e o aumento assombroso da doença mental. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
