O Sulear, a museologia latino-americana e seus desafios na arena epistemológica e geopolítica

Resumo

A primeira  referência a sulear concerne à astronomia ou à geografia, qual seja, dirigir-se ao sul, voltar-se para ou estar no sul, opondo-se ao hegemônico nortear, cuja força uniformizadora pode ser detectada em mapas, planisférios e outras representações da Terra, como parte de um discurso que, por sua vez, constitui o cerne do paradigma vigente no campo científico e cultural. A segunda, política, respeita às assimetrias existentes entre nações acima e abaixo do equador, constatadas pela desigual distribuição de riqueza, poderio científico-tecnológico e reconhecimento artístico e patrimonial. Neste trabalho, sulear significa adotar uma posição teórico-política estratégica no campo sociocultural e científico relativamente às condições de existência do hemisfério sul e, particularmente, às da América Latina e do Brasil. O objetivo aqui visado é, com fundamento em uma análise discursiva, e levando em conta que todo e qualquer enfoque teórico-metodológico carrega as marcas de seu local de produção, qual seja, seu referencial histórico-cultural e ideológico a partir do qual o mundo é observado e interpretado, tecer considerações acerca de uma relação necessária entre a museologia e as práticas museais latino-americanas e caribenhas e os princípios e procedimentos do sulear. Para tanto, parto da constatação de que sulear implica ter uma compreensão crítica, em termos histórico-culturais, epistemológicos e ideológicos, do sentido profundo desse pôr-se ao sul. Ademais, considerando o atual estado do campo museológico, estar cônscio de que uma tomada de posição suleante também significa travar uma permanente batalha de conceitos e paradigmas epistemológicos e geopolíticos.