Políticas da memória entre becos e vielas

as sobrevidas no pós-escravidão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36704/sdhe.v8i1.9477

Palavras-chave:

colonialismo, escrita literária, historiografia

Resumo

O cenário filosófico, científico e educacional que nos atravessa é influenciado diretamente pela construção da modernidade europeia. Com as primeiras digressões modernas determinando uma linha de valores que moldaram uma noção de ser humano. Diante disso, podemos pensar que as narrativas escolhidas para compor um livro literário, por exemplo, só têm sentido se expressarem o desejo e o anseio do colonialista. Até mesmo o cenário estereotipado pelo imaginário colonial perpassa por essa ânsia. Nessa linha de invenção pensamos, neste artigo, em estabelecer como a construção de paradigmas europeus fundamentou uma imagem do que seja humano, provocando, assim, a negação de outras humanidades. Essa negação, e esse é o nosso argumento, resulta na presença histórica da escravidão transatlântica, que, ao contrário de outros sistemas escravocratas, objetificou o outro. A partir de uma abordagem teórico-analítica, dividimos o texto em duas seções: a primeira, fundamentada em Saidiya Hartman, discute como o indizível constitui a política dos arquivos sobre a ocultação das memórias das pessoas subalternizadas; a segunda se dedica à obra de Conceição Evaristo, especialmente Becos da Memória, para exemplificar como a literatura negra feminista pode operar como um local de memória viva e projetora de vozes.

Biografia do Autor

Luís Thiago Freire Dantas, UERJ

Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPed - UERJ. Professor Filosofia da Educação - UERJ. Doutor em Filosofia - UFPR. Coordenador do Mulungu: leituras contra-coloniais.

Guilherme Souza Ciqueira, UERJ

Graduando em História pela UERJ. Membro do Mulungu: leituras contracoloniais.

Victoria Maria de Sousa Soares, UERJ

Licenciada em Letras Portugês pela UERJ. Membra do Mulungu: leituras contracoloniais.

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Publicado

2025-07-31

Como Citar

Freire Dantas, L. T., Souza Ciqueira, G., & de Sousa Soares, V. M. (2025). Políticas da memória entre becos e vielas: as sobrevidas no pós-escravidão. SCIAS. Direitos Humanos E Educação, 8(1), 618–638. https://doi.org/10.36704/sdhe.v8i1.9477