Os traços fenotípicos do "sujeito negro" na Revista Ciência Hoje das Crianças

uma questão de origem

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36704/sdhe.v8i2.9526

Palavras-chave:

Ciência Hoje das Crianças, Lei 10.639, Currículo, Traços fenotípicos

Resumo

O artigo objetiva compreender de que modos as abordagens sobre os traços fenotípicos produzem “verdades” sobre o “sujeito negro” na revista Ciência Hoje das Crianças (CHC), material de divulgação científica interpelado pelas finalidades didáticas. A escola e o currículo são forjados como elementos que integram o dispositivo de racialidade e promovem processos de assujeitamento. Assim, a CHC é construída como um corpus discursivo que produz “verdades” sobre os sujeitos. Metodologicamente, analisou-se edições CHC publicadas de 2003 a 2023, período que compreende a promulgação da Lei 10.639/2003, tratada como um ponto de resistência dentro das relações raciais de poder. A análise indica que, embora o material seja atravessado pelo racismo, a Lei e os saberes protagonizados pelo Movimento Negro também o interpelam, especialmente nas abordagens sobre o colorismo, eugenia e representatividade. Os conhecimentos biológicos e sócio-históricos se misturam na demarcação de que a origem se define pela raça.

Biografia do Autor

Lívia da Silva Queiroz, Fundação Pública Municipal de Educação de Niterói, Niterói, Rio de Janeiro.

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE-UFRJ) e Mestre em Educação pela mesma. Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - 2016). Atua no NEC - Laboratório do Núcleo de Estudos em Currículo da UFRJ, a partir do Grupo de Pesquisa "Currículos Escolares, Ensino de Ciências e Materiais Didáticos". Também vêm atuando como professora da Educação Infantil e dos Anos Iniciais, estando atualmente vinculada à Fundação Pública Municipal de Educação de Niterói, Niterói, RJ. Tem interesse em temas relacionados ao currículo de Ciências nos anos iniciais e na Educação Infantil, questões étnico-raciais, alfabetização, literatura infantil e formação de professores e professoras.

Maria Margarida Pereira de Lima Gomes, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Licenciada em Ciências Biológicas pela UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro (1984), Mestre em Currículo e Ensino pela KU - Universidade do Kansas (1995) e Doutora em Educação pela UFF - Universidade Federal Fluminense (2008). É Professora Associada do Departamento de Didática da Faculdade de Educação da UFRJ, exercendo atividades de ensino, pesquisa e extensão com estudantes de Graduação e Pós-Graduação. Atua no Programa de Pós-Graduação em Educação, no PROFBIO, no NEC - Laboratório do Núcleo de Estudos de Currículo e no Projeto Fundão Biologia - UFRJ. Coordena o Grupo de Estudos "Currículos escolares, ensino de Ciências e materiais didáticos", desenvolvendo e orientando trabalhos na área de Educação, principalmente em Currículo e suas relações com o ensino das Ciências e Biologia, a história das disciplinas escolares, os conhecimentos escolares, as materialidades escolares e a formação de professores. Atua na formação de professores em escolas do Rio de Janeiro com apoio da FAPERJ e de programas institucionais de formação docente. É associada da SBEnBio - Associação Nacional de Ensino de Biologia. É Editora Adjunta da REnBio - Revista de Ensino de Biologia.

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Publicado

2025-11-04

Como Citar

da Silva Queiroz, L., & Pereira de Lima Gomes, M. M. (2025). Os traços fenotípicos do "sujeito negro" na Revista Ciência Hoje das Crianças: uma questão de origem. SCIAS. Direitos Humanos E Educação, 8(2), 962–982. https://doi.org/10.36704/sdhe.v8i2.9526