De cronista a alvo do Santo Ofício

o protagonismo de Frei Manoel Calado do Salvador

Autores

  • Regina da Costa FFP/UERJ

Palavras-chave:

Clero católico, Brasil holandês, Inquisição de Lisboa, Frei Manoel Calado

Resumo

O objetivo do artigo é desvendar a centralidade de Frei Calado para a manutenção do catolicismo no Brasil holandês ao atuar como religioso, cronista e delator em um ambiente bélico. Tamanha importância do frade no contexto da dominação neerlandesa sobre as capitanias açucareiras do Norte o tornou personagem de uma biografia de um dos mais importantes estudiosos sobre o tema, o historiador pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello, publicada originalmente em 1954, por ocasião da comemoração do tricentenário da insurreição pernambucana, conflito que marcou a expulsão definitiva dos holandeses da região. Religioso português, natural da Vila Viçosa, eclesiástico da Ordem de São Paulo desde 1607, momento no qual tornou-se o Frei Manoel Calado do Salvador. Autor de famoso relato sobre o período de ocupação holandesa, intitulado O Valeroso Lucideno e o Triunfo da Liberdade, Calado chegou a ser citado nas fontes inquisitoriais da época ao ser perseguido pelo bispo da Bahia, D. Pedro da Silva e Sampaio, que desconfiava de condutas duvidosas por parte do frei. Grande articulador, o religioso possuía algumas inimizades e alimentava outras alianças, principalmente uma forte amizade com Conde Maurício de Nassau, relações às quais é possível identificar através de sua crônica. Um dos principais informantes sobre as guerras pernambucanas do açúcar, Calado narra até 20 de julho de 1646, ano que parte para Lisboa levando cartas dos líderes da insurreição ao Rei de Portugal.

Referências

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Conselho Ultramarino, Pernambuco, papeis avulsos, caixa 3-A e anexos, Lisboa, 11 de setembro de 1646.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Pernambuco, papeis avulsos, caixa 3 e códice 278, fls. 398-398v.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Pernambuco, papeis avulsos, caixa 3-A e códice 13, fls. 384v.

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO, Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor 28, Livro 227, fól. 15-18.

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO, Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor 31, Livro 230, fóls. 250-252; 256-260.

BOXER, Charles R. Os Holandeses no Brasil: 1624-1654. Tradução de Olivério M. de Oliveira Pinto. (Original de 1957). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.

CALADO, Manoel. O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade (manuscrito de 1648). 5ª ed. 2 vls. Recife: CEPE, 2004.

FEITLER, Bruno. Nas malhas da consciência: Igreja e Inquisição no Brasil. São Paulo: Editora Unifesp, 2019.

LARA, Silvia Hunold. (org.) Ordenações Filipinas, Livro V. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. v. 5. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938-1950.

MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O Brasil Holandês (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010.

MELLO, José Antônio Gonsalves de. Frei Manoel Calado do Salvador. Religioso da Ordem de São Paulo, pregador apostólico por sua Santidade, cronista da Restauração. Recife: Universidade do Recife, 1954.

MELLO, José Antônio Gonsalves de. João Fernandes Vieira: Mestre-de-campo do Terço da Infantaria de Pernambuco. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000.

SCHALKWIJK, Frans Leonard. Igreja e Estado no Brasil holandês. Recife: FUNDARPE, 1986.

VAINFAS, Ronaldo. Jerusalém Colonial: judeus portugueses no Brasil holandês. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

VAINFAS, Ronaldo. Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Downloads

Publicado

2024-08-13

Como Citar

da Costa, R. (2024). De cronista a alvo do Santo Ofício: o protagonismo de Frei Manoel Calado do Salvador. Revista Histórias Públicas, 1(3), 56–78. Recuperado de https://revista.uemg.br/index.php/historiaspublicas/article/view/7714

Edição

Seção

Dossiê Inquisição: persistências, consequências e influências no Brasil, da colônia aos nossos dias