Percepções e formação de acadêmicos em Engenharia Civil sobre risco e sua gestão
DOI:
https://doi.org/10.36704/25256041/reis.v6i7.5646Palavras-chave:
Riscos, Engenharia Civil, PercepçãoResumo
Este artigo analisa como estudantes concluintes do curso de Engenharia Civil do CEFET-MG, campus Varginha, lidam com e percebem “riscos” em sua formação profissional. O propósito é analisar, no discurso desses acadêmicos, a representação de “risco” e conceitos que o circundam. De abordagem construtivista, esta observação foca em como fatores sociais e políticos são encarados pelos acadêmicos como pertinentes, ou não, à gestão dos riscos. Para realizar a análise, apresenta-se comentário sobre como os campos da Engenharia e das Ciências Sociais convergiram nas últimas décadas, levando à formação das “ciências cindínicas” e à institucionalização de propostas para gestão de risco, a partir de uma compreensão ampliada, que toma os riscos não apenas como probabilístico, mas que compreende outras dimensões, como condições sociais, memória e relações de trabalho. Evidenciou-se que os novos profissionais partilham de um paradigma tecnocrático de Engenharia que leva à condução objetivista e probabilista da gestão e análise de riscos. Dessa forma, aspectos éticos, condicionamentos sociais e a complexidade dos interesses humanos envolvidos são obliterados na abordagem profissional.
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