[PRORROGAÇÃO DE CHAMADA] ESTÃO PRORROGADAS ATÉ 25 DE JULHO AS SUBMISSÕES PARA O V. 4, N. 1 (2022) DA REVISTA SAPIENS, QUE TRAZ O DOSSIÊ TEMÁTICO "A LEITURA LITERÁRIA: “A QUE SERÁ QUE SE DESTINA?”
O V. 4, N. 1 (2022) DA REVISTA SAPIENS TRAZ O DOSSIÊ TEMÁTICO A LEITURA LITERÁRIA: “A QUE SERÁ QUE SE DESTINA?”
A partir do princípio de que a leitura e, especificamente, a leitura literária e a literatura são objetos de ensino, a problematização do que é que se ensina, tendo por escopo tais objetos, ocupa lugar de destaque nos debates os mais diversos. Estejam eles no campo dos estudos literários, nomeadamente a teoria da literatura e toda a gama de disciplinas que recebem o nome de literatura (crítica literária, literatura comparada, literatura clássica, brasileira, ocidental, marginal, periférica etc.), ou nas cadeiras de teor mais pedagógico (letramento literário, alfabetização e letramento, literatura infantojuvenil etc.), a leitura do texto literário ocupa-nos enquanto formadores de professores de língua e literatura. O que significa, em toda a gama de possibilidades de leitura, a leitura do texto literário?
A referência à canção de Caetano, que ele dedica ao jovem e saudoso Torquato Neto, não é um incidente. Assim como questionamo-nos “a que será que se destina” existirmos, perguntamo-nos, também, “a que será que se destina” a leitura literária.
A resposta pode parecer sempre óbvia, a nós, afeitos a este tipo de leitura. Alberto Manguel, em Notas para uma definição do leitor ideal, afirma ser mentira a crença de que a leitura é uma forma de fuga da realidade. É também isto, mas é sobretudo uma forma, afirma o crítico argentino, de enfrentar a realidade, de compreender melhor isto que se nomeia real. Escreve Manguel que: “A leitura esfrega o mundo no nosso nariz, é preciso muita força de vontade para não nos envolvermos com os sofrimentos de Brás Cubas ou com a paixão de Fedra.” (MANGUEL, 2020, p. 14).
No entanto, se para nós, o que afirmam os críticos e o que lemos nos livros de ficção, poesia e não ficção é óbvio, isto é, a leitura literária tem uma potência no sentido de tornar-nos mais aptos à percepção do mundo, à possibilidade de sermos mais empáticos, bem como termos um olhar crítico, ativo e atuante sobre o mundo em que vivemos, como ensinar isto quando se pensa no ensino da literatura e da leitura literária?
Para os que atuamos nos cursos de Letras, é fundamental considerar-se a formação teórica consistente no campo da Teoria da Literatura. Maria Amélia Dalvi, com forte atuação no campo da escolarização da literatura, afirma em diferentes trabalhos esta necessidade: “se a teoria e a crítica tivessem maior penetração na sala de aula e nos cursos de formação de professores, a voz do aluno no ato de recepção textual não seria recalcada pelos roteiros de interpretação” (DALVI, 2013, p. 126).
Há que se pensar também nas discussões que permeiam vários estudos das Ciências Humanas, os quais problematizam categorias como autor/leitor e/ou escritura/leitura. Conceitos como os de “desleitura e desescrita”, por exemplo, cunhados por Bloom (1995), enfocam especialmente tais categorias, colocando-as em xeque na contemporaneidade. Contribuem, dessa forma, para a desconstrução dessas noções e, em sua esteira, para a desconstrução da própria ideia de obra literária. Os estudos sobre o(s) letramento(s), por sua vez, atuam também nesse contexto de (re)configuração do ideário sobre as práticas sociais de leitura e de escrita. Ângela Kleiman (2007), uma voz importante nesse campo, afirma que optar por ensinar “uma prática” implica agir na contramão do que preconiza, geralmente, a cultura escolar, a qual entende o ensino como desenvolvimento de habilidades individuais. (KLEIMAN, 2007, p. 4-5). Assim, pensar a leitura, a leitura literária – a que será que se destina – é pensar também as tantas dimensões envolvidas com/nessas noções. Exercício desafiante e necessário atualmente.
Nesse sentido, torna-se fundamental também que as discussões sobre leitura e leitura literária excedam o lugar-comum de que “a literatura humaniza o homem”, considerando-se que tal pressuposto tende a forjar um conceito universalizante do literário capaz de anular a pluralidade e diferença entre leitores potenciais em função de um discurso pedagógico homogeneizador e hierárquico. É o que observa Marcos Natali (2020) ao indagar a responsabilidade da instituição literária na relação que estabelece com a tradição cultural e o liberalismo que fomenta a modernidade, esta que por sua vez se afirma a partir da doutrina do progresso e de mecanismos falseadores da inclusão. Na visão de Natali (2020, p.25), o risco de se tomar a literatura como parte de um projeto civilizatório, que tem no homem e na humanização os signos da assimilação cultural, é justamente a "expansão de uma hegemonia simbólica e de suas categorias classificadoras" em ambiente de modernização abarcador e por isso mesmo excludente. Pois por meio da política pedagógica do progresso, o que é descartado ou lançado às formas marginais é o elemento divergente ou não conformável às diretrizes liberais melhor representadas pela alta cultura, esta que também abastece a literatura e elitiza seus meios de acesso. Resta, portanto, perguntar-nos, com Natali (2020, p. 46), de que maneira a instituição literária, constituinte desse cenário, poderia ser manejada de forma a reconhecer-se não como um universal humanizador, mas sobretudo como as "ruínas deixadas pelo caminho no trânsito entre línguas, tradições e obras". Dentro dessa perspectiva, qual seria, afinal, a tarefa do professor ao conduzir a leitura/desleitura literária?
Nesse sentido, convidados a todas, todos e todes que se interessem a submeter seus textos para este dossiê. As submissões estarão abertas do dia 11 de abril de 2022 até o dia 30 de junho de 2022.
Lembramos, ainda, que, além do Dossiê, a Sapiens também recebe trabalhos em fluxo contínuo na Seção Vária
Organização do dossiê
Prof.ª Ana Paula Martins Corrêa Bovo – UEMG Passos
Prof.ª Fernanda Gontijo de Araújo Abreu – UEMG Ibirité
Prof. Josué Borges de Araújo Godinho – UEMG Carangola