Jacques Rancière, Igualdade e Democracia Radical: um paradoxo para a acadêmica noção de povo e hegemonia
Resumo
Com este trabalho pretendíamos refletir sobre uma das noções de igualdade apontadas por Jacques Rancière – uma espécie de mestre ignorante. A pergunta era bem simples: a igualdade poderia ser considerada o fundamento da democracia? Embora saibamos que sim, passamos a achar que não seria muito interessante pensar desse modo. Em certo momento, chegamos a considerar que o mais legal seria pensar que a democracia não tem fundamento. Porém, esta é uma posição bem radical. Ela é politicamente radical. Então nossa dúvida passou a ser outra: será que conseguiríamos operar com essa perspectiva? A partir dessas e outras indagações, percorremos algumas análises no campo da intitulada “democracia radical”, âmbito em que igualdade, liberdade e pluralismo parecem representar uma tríade estratégica para a construção de um projeto de hegemonia-aberta ou, ainda, uma suavização de formas mais rígidas de governo e soberania. Eram posições teóricas muito relevantes, mas, por outro lado, já tínhamos a nossa. Estávamos com a disposição para defender que a democracia precisaria ser um regime da igualdade. Um regime em que a igualdade precisaria ser um axioma – do contrário, não seria nada. Diante dos desconcertantes achados – sem entrar nos inúmeros dilemas que saltaram aos olhos – e com uma vontade enorme de compartilharmos apontamentos, acabamos optando por uma outra tarefa. Passamos a refletir sobre a igualdade em uma dimensão mais convencional, limitada e particular: dentro da relação mando-obediência. A partir daí, nos detivemos aos contornos que teria a operação “povo-sujeito”. Ao final, além de notar o óbvio, que a igualdade poderia funcionar como um analisador polêmico das distintas categorias assimétricas que têm configurado o nosso campo social, também começamos a visualizar que, na prática, a igualdade poderia ser concebida como uma técnica de escrita contra-hegemônica radical, um tipo de relação na qual a própria noção de democracia, na prática e na linguagem científica, estão em questão.
Referências
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