PODE A NATUREZA FALAR? PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL MULTIESPÉCIE

Autores

  • Emmanuel Duarte Almada Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG
  • Bruno Venancio Universidade Federal Fluminense-UFF

Palavras-chave:

pluriversos; educação ambiental crítica; diversidade biocultural.

Resumo

A colonialidade do poder e do saber, a outra face do projeto da modernidade, teve como consequência o apagamento e subalternização da diversidade saberes produzida pelos povos e comunidades à margem do aparato técnico-científico ocidental. Ao mesmo tempo, a própria natureza, reduzida a uma metafísica mecanicista, foi convertida em mero palco da marcha inexorável do progresso conduzida pelo capital organizado. Neste texto propormos um alargamento das lutas decoloniais contra os epistemicídios e construção de uma ecologia de saberes que reconheça os conhecimentos e mundos mais que humanos produzidos pelos outros viventes. Dada a coincidência ontológica entre viver e conhecer, a consideração dos saberes inscritos nos corpos, nos territórios e nas alianças entre as espécies tornam-se a matéria de uma educação ambiental para a construção de sujeitos ecopolíticos. A educação (ambiental) pois, não é mais pensada como u fenômeno humano, mas um ato contínuo que se dá em um mutirão multiespécie para produção de pluriversos. Desta forma, frente às ruinas do capitaloceno, somos provocados a pensar sobre caminhos de construção de uma educação ambiental multiespécie, em que a regeneração das bases da vida seria possível a partir da atenção à multidão de vozes dos viventes de Gaia.

Biografia do Autor

Emmanuel Duarte Almada, Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG

Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Minas Gerais. Doutorado em Ambiente e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas (2012). Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005) e em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Selvagem, também UFMG (2008).  Coordenador do Laboratório de Estudos Bioculturais da Universidade do Estado de Minas Gerais. Membro da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, do Mutiró - Núcleo de Estudos em Agroecologia, da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana e da Articulação Embaúba - raizeiras, benzedeiras e partes da RMBH.

Bruno Venancio, Universidade Federal Fluminense-UFF

Doutorando em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF) na linha de pesquisa Ciência, Cultura e Educação (CCE). Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação: Processos Socioeducativos e Práticas Escolares (PPEDU- UFSJ), na linha de pesquisa Discursos e Produção de Saberes nas Práticas Educativas. Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela UFSJ (Universidade Federal de São João del Rei).  Associado a Associação Brasileira de Ensino de Biologia- SBEnBIO- e da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências -ABRAPEC. Membro do grupo de pesquisa Currículo, Docência e Cultura (CDC - PPGEd/UFF/CNPq). 

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Publicado

26-04-2021 — Atualizado em 27-04-2021

Versões

Como Citar

Duarte Almada, E. ., & Venancio, B. (2021). PODE A NATUREZA FALAR? PERSPECTIVAS PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL MULTIESPÉCIE. Revista Interdisciplinar Sulear, (9), 67–81. Recuperado de https://revista.uemg.br/index.php/sulear/article/view/5429 (Original work published 26º de abril de 2021)