Exclusão na escola brasileira:

características históricas da escolarização em uma sociedade desigual (1930-1971)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36704/eef.v25i46.6558

Palavras-chave:

Democratização do ensino, Estatística educacional, História da Educação

Resumo

Neste artigo, apresento uma análise sócio-histórica acerca de algumas características da exclusão escolar que se delineou no Brasil ao longo do século XX, em meio a um expressivo processo de ampliação do acesso da população à escola. A abordagem articula a análise histórica documental com aportes provenientes da teoria de Pierre Bourdieu, em torno das noções de capital cultural e de reprodução escolar, e com as proposições de Walter D. Mignolo que permitem focalizar as relações entre histórias locais e a colonialidade do poder. Concentro a atenção no período entre 1930 e 1971, pretendendo mostrar, pela análise das estatísticas e do debate sobre os números, que as opções políticas do modelo de expansão da escola brasileira, apoiadas na crença meritocrática, determinaram forte exclusão escolar, especialmente em relação à cor/raça e classe social.

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Biografia do Autor

Natália Gil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Natália Gil é Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do projeto de pesquisa interinstitucional (UFRGS, UNICAMP, USP) “A escola obrigatória e seus alunos: acesso, permanência e desempenhos (1870-1970)”, financiado pelo CNPq (processo nº 454937/2014-8).

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Publicado

30/08/2022

Como Citar

Gil, N. (2022). Exclusão na escola brasileira: : características históricas da escolarização em uma sociedade desigual (1930-1971) . Educação Em Foco, 25(46), 133–161. https://doi.org/10.36704/eef.v25i46.6558

Edição

Seção

Dossiê 200 Anos de Educação do Brasil